Panorama do Treinamento e Desenvolvimento no Brasil (2023-2024): Análise e Tendências

A Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) lança anualmente a pesquisa “Panorama do Treinamento do Brasil”, revelando o cenário evolutivo desse processo no país. Este ano, uma análise detalhada desses dados oferece insights valiosos sobre o panorama do Treinamento e Desenvolvimento (T&D) no Brasil.

Investimento em T&D no Brasil e sua Comparação Internacional

No contexto brasileiro, o investimento em Treinamento e Desenvolvimento (T&D) tem se mantido relativamente estável, representando cerca de 2,1% da folha anual de pagamentos das empresas brasileiras. No entanto, ao compararmos com os Estados Unidos, é evidente uma diferença significativa, pois as empresas norte-americanas alocam aproximadamente 4,6% de seu orçamento para essa finalidade.

Esse investimento divide-se em diferentes áreas: 46% destinam-se à gestão interna das equipes de T&D, 47% para custos relacionados a conteúdos e treinamentos providos por equipes externas e 8% para programas educacionais, abrangendo desde o ensino básico até cursos de pós-graduação.

Destinação do Investimento em T&D: Líderes e Não Líderes

Mais da metade do orçamento de T&D, cerca de 51%, é direcionado à formação de lideranças. Esse investimento prioriza o desenvolvimento de habilidades comportamentais, conhecidas como soft skills, como comunicação, inovação e habilidades interpessoais. O restante, 49%, é voltado para o treinamento de colaboradores que não ocupam posições de liderança. Aqui, o enfoque é predominantemente técnico, embora também possa incluir aspectos comportamentais e cursos obrigatórios, como as Normas Regulamentadoras (NRs).

Estrutura do Aprendizado no Ambiente de Trabalho

Apesar da priorização do aprendizado no local de trabalho pelos profissionais de T&D, a pesquisa sugere que esse tema tem perdido destaque. O aprendizado informal, descentralizado e muitas vezes denominado como tal, tem sido a tônica nessa esfera. Esse tipo de treinamento, baseado em trocas de conhecimento e ações informais, é frequentemente realizado pessoalmente ou por meio de redes sociais, como o WhatsApp.

Reflexões sobre o Panorama do T&D no Brasil

A eficiência e eficácia operacional das empresas dependem diretamente da competência de seus colaboradores. Contudo, o foco do T&D parece estar se desviando do aprendizado no local de trabalho para outras áreas, como o desenvolvimento de lideranças e habilidades técnicas. Esta mudança pode refletir uma necessidade de adaptação às exigências do mercado, buscando um equilíbrio entre a preparação técnica e o aprendizado contextualizado das demandas laborais.

Portanto aqui cabe uma reflexão: Estamos direcionando os esforços de T&D para atender as reais necessidades das organizações ou, ao invés disto, direcionando os esforços para as áreas de maior visibilidade das organizações? As pessoas que atuam nesta área estão se imbuindo de transferir para todos os colaboradores os conhecimentos necessários de engenharia de produção tais como o pensamento enxuto, sistemas de racionalização de processos produtivos e operacionais que são utilizadas em larga medida nas organizações, ou estes conteúdos fundamentais são designados para outras áreas a margem das atividades de treinamento e desenvolvimento da empresa?

Conclusão e Perspectivas Futuras

O atual cenário do T&D no Brasil aponta para a importância de repensar estratégias e realinhar os investimentos para integrar mais efetivamente o aprendizado informal no ambiente de trabalho. Essa reconexão pode otimizar o desempenho individual e coletivo dos colaboradores, impactando diretamente nos resultados organizacionais.

Neste sentido o uso de técnicas de aprendizado tais como a Andragogia e a micro aprendizagem são fundamentais para viabilizar que os conhecimentos transferidos de maneira informal possam ser formalizados e compartilhados de forma sistêmica e mediada por tecnologias.

Assim, torna-se essencial que as empresas busquem adaptar suas práticas de T&D, reconhecendo a relevância do aprendizado no local de trabalho e investindo em programas que possibilitem a capacitação constante e a atualização contínua de habilidades, tanto técnicas quanto comportamentais. Esse movimento estratégico não só promove um ambiente de trabalho mais dinâmico e engajado, mas também reforça a competitividade das empresas brasileiras no mercado global.